
País governado pelo ANC desde 1994, partido de negros que lutou para o fim da supremacia branca (segregação racial) durante 46 anos, tem sido visto pouco interessado e/ou pouco entusiasmado com as questões africanas, tendo maior participação nos assuntos de fora da geografia do continente – como a guerra de invasão da Rússia sobre a Ucrânia, e a guerra de judeus e árabes no Médio Oriente.
Os assuntos que se desenrolam no continente africano, sobretudo na área de desenvolvimento económico, democracia e direitos humanos não têm sido, na maioria das vezes, dignos da agenda dos diferentes organismos internacionais como as Nações Unidas, BRICS, G7 e G20.
Há segmentos que defendem que o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que agora conta com os Emirados Árabes Unidos, Irão e Egipto, é pura plataforma de coordenação política, mas sobretudo económica – com ADN contrário ao Ocidente, sobretudo os EUA, e não um fórum para discutir problemas africanos.
O mesmo tem sido dito, nalguns casos, sobre organizações como o Grupo das 20 maiores economias do mundo (G20), bem como o G7.
Todas essas organizações, com a excepção dos BRICS, têm se empenhado fervorosamente com questões relacionadas com as situações na Europa ou Américas.
Por exemplo, em relação a actual situação de impasse eleitoral na Venezuela, os chanceleres do G7, grupo formado pelos Estados Unidos, Canadá, Itália, Alemanha, Reino Unido, Japão e França, emitiram um comunicado conjunto em que consideraram González (opositor de Nicolas Maduro), vencedor das eleições de 28 de Julho último.
Na mais recente Cimeira do G20, no Brasil, esta cúpula mais alargada das nações mais ricas, em que também faz parte a África do Sul, emitiu um comunicado em que criticou as guerras entre a Rússia e a Ucrânia, bem como a de Israel com Hamas e palestina.
Apesar de a África do Sul e a União Africana (esta enquanto bloco) fazerem parte do G20, pouco ou nada foi discutido sobre África. A julgar pelo teor do comunicado, nada mesmo foi dito.
Os principais players políticos africanos têm noção do preconceito reinante nestas organizações, por isso têm feito é esforço para a reformulação da Organização das Nações Unidas, para que um país africano possa fazer parte do Conselho Permanente do organismo.
Que nação africana pode jogar este papel?
Diferentes especialistas defendem que devem ser elevado a categoria de membro do Conselho Permanente da ONU, o país africano que tem na sua agenda internacional discutir e resolver os problemas do continente.
A África do Sul, face ao seu potencial político, económico, e credibilidade internacional, é o Estado que está na linha da frente das sondagens para este posto, mas o problema prende-se com o facto de o país demonstrar pouco interesse na questão intramuros africano.
E a sua presidência do G20 deverá ser bastante fiscalizada sobre que assuntos deverá promover.
O seu antecessor na liderança do G20, o Brasil, não se focou na questão do continente americano, mas também não precisava fazê-lo, dado que os problemas daquele vasto território é seguido à lupa pelo G20, G7, e em particular a União Europeia e os Estados Unidos – é só ver como estes países e blocos se posicionaram na questão eleitoral da Venezuela.
Entretanto, o Brasil, cuja presidência iniciara a 1 de Dezembro de 2023, focou sua liderança na inclusão social e combate à fome e à pobreza; transição energética e desenvolvimento sustentável; e reforma da governança global.
Da África do Sul espera-se maior intervenção africana. O continente berço debate-se com vários problemas e até dos mais básicos, desde a seca, fome severa – apesar dos recursos, doenças, e situações de instabilidade como guerras e terrorismo.
Por exemplo, de acordo com a última actualização de Agosto da Central África, um organismo que visa a actualização dos factos no continente, estima-se que 60% do território do Burkina Faso esteja fora do controlo das autoridades, por conta da pressão dos terroristas. O Mali terá perdido 40%.
A República Democrática do Congo (que teve/tem tropas sul-africanas em prol do Governo), e a República Centro Africana vivenciam conflitos constantes com grupos armados, que vão demonstrando ter maior capacidade que o Estado, e, em face disso, têm igualmente alargado suas zonas de controlo. No Congo, estes grupos ocuparam vastas zonas ricas.
O Sudão também assiste uma guerra brutal e impiedosa, sem o cumprimento das mais elementares regas da guerra, como a protecção aos civis, etc, mas o mundo está a olhar para o lado, pouco ou nada se promove para contrariar essa guerra.
A potente África do Sul, ao invés de focar seus olhos principalmente para dentro da África, tem procurado alargar seu raio de acção internacional. Na guerra que o Estado de Israel trava com o Hamas (na Palestina), com os Houthis, do Iémen; com Hezbollah, do Líbano; e com o Irão, a África do Sul interveio movendo um processo de genocídio contra Israel, no Tribunal Internacional de Justiça.
O Parlamento da Cidade do Cabo votou a favor de uma moção para o corte de relações diplomáticas com Israel até que haja um cessar-fogo permanente na guerra com o movimento islamista Hamas.
A moção, que contou com o apoio dos partidos ANC, Economic Freedom Fighters (EFF), National Freedom Party (NFP), Pan Africanist Congress (PAC) e Al Jama-ah, incluiu ainda o encerramento da embaixada sul-africana em Telavive, bem como da embaixada israelita em Pretória.
No continente, o país que mais se tem batido para com os problemas africanos é Angola.
A Nação governada por João Lourenço tudo tem feito para a paz e estabilidade militar em Moçambique, República Centro Africana e na República Democrática do Congo. O Sudão, entretanto, não tem sido esquecido na agenda de João Lourenço.
E a própria Organização das Nações Unidas tem manifestado confiança no esforço angolano para pôr fim às várias guerras e instabilidade no continente.
CK