Filipe Nyusi e o Potencial Decretação de Estado de Emergência: A Opinião de Quitéria Guirengana
O cenário político em Moçambique segue tenso, com especulações sobre a possibilidade de o presidente Filipe Nyusi decretar um estado de emergência para lidar com a crescente insatisfação popular e os protestos que ganham força no país. Algumas correntes sugerem que essa medida poderia trazer benefícios para Nyusi, incluindo a manutenção de seu poder e proteção diante de processos judiciais relacionados às dívidas ocultas. No entanto, para a ativista social Quitéria Guirengana, a medida seria uma estratégia arriscada, que poderia resultar em um agravamento da crise política e social.
"Estado de Emergência é Colocar a Cabeça a Prêmio"
Em entrevista à DW África, Quitéria Guirengana, conhecida por sua postura crítica ao governo de Nyusi, afirmou que decretar um estado de emergência nesta altura seria um erro estratégico. Ela alerta que, ao tomar tal medida, Nyusi estaria reconhecendo publicamente que o país enfrenta um problema grave, o que contradiz suas alegações anteriores de que os protestos são orquestrados por um pequeno grupo de vândalos.
"Ao decretar o estado de emergência, Nyusi estaria admitindo que o país está diante de um problema sério. Os moçambicanos não estão mais pedindo nada além da verdade. Essa luta é sobre a verdade", disse Guirengana.
Maquiavelismo e Perpetuação no Poder
A ativista vê o possível decreto de estado de emergência como uma manobra maquiavélica para preservar os interesses do presidente e de seu círculo próximo, em especial no que diz respeito à exploração do gás natural e à continuidade dos benefícios financeiros para as empresas ligadas ao governo.
Ela também aponta que a medida poderia servir para proteger Nyusi de um possível julgamento no contexto das investigações sobre as dívidas ocultas no exterior, um escândalo financeiro que abalou o país.
No entanto, Guirengana não acredita que essa estratégia seria bem-sucedida a longo prazo. "Sempre vi isso como uma vacina para apatia generalizada, para que o povo aceitasse as injustiças com medo de Nyusi se perpetuar no poder. Mas a verdade é clara: tentar se perpetuar no poder seria um tiro no próprio pé", afirmou.
Para ela, a melhor saída para o presidente seria reconhecer os erros e tentar corrigir o rumo, em vez de seguir com uma repressão ainda mais agressiva. "O Presidente Nyusi pode sair pela porta adequada, assumindo que escolheu o caminho errado, pedindo desculpas ao povo e buscando a reconciliação. Caso contrário, a repressão e a violência só vão aumentar a vergonha dentro do sistema", disse Guirengana.
A Resistência Popular e o Futuro dos Protestos
A ativista também comentou sobre os próximos protestos previstos para a fase 3, convocados por Venâncio Mondlane, um dos principais líderes da oposição. A expectativa é que os protestos se intensifiquem, e Guirengana considera que a decretação de estado de emergência poderia inibir a participação massiva dos cidadãos. No entanto, ela acredita que o povo moçambicano já chegou a um ponto de não retorno.
"Este país está um caos. O poder político perdeu a legitimidade. O governo já não manda mais nada, as ordens são desrespeitadas, e o próprio governo está em 'lockdown'. Eles não têm mais controle sobre suas próprias vidas, estão sendo governados por forças externas. Mas o povo moçambicano não tem para onde fugir. Este é o nosso país e nós vamos defendê-lo a todo custo", declarou Guirengana.
Com a crescente insatisfação popular e as ameaças de repressão, o futuro político de Moçambique permanece incerto. A pressão sobre o governo de Nyusi só tende a aumentar, enquanto a luta por justiça e transparência continua a mobilizar setores da sociedade civil.
Conclusão: O Caminho de Nyusi
Se, por um lado, algumas correntes políticas acreditam que o estado de emergência pode beneficiar Nyusi, garantindo a continuidade de seus interesses econômicos e protegendo-o de julgamentos, por outro lado, ativistas e líderes da oposição como Quitéria Guirengana alertam que essa medida poderia agravar ainda mais a crise política, resultando em maior repressão e, possivelmente, em um isolamento internacional.
O que está em jogo não é apenas o futuro político de Filipe Nyusi, mas também o destino de Moçambique e de sua população, que clama por justiça, transparência e um governo legítimo.
DW